Advento: tempo de preparação do coração e de alegre esperança

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O Tempo do Advento é um tempo de conversão, que nos convida a prepararmos o coração para acolher o Senhor que vem. Assim, é um tempo de alegre esperança, de expectativa por essa chegada, e que traz consigo um conteúdo teológico profundo.

Celebrar o Advento é aprender a viver em atitude de vigilância e de acolhida, deixando que a Palavra transforme o coração e que a luz de Cristo ilumine os caminhos da vida. Entre a memória da primeira vinda e a esperança da segunda, a Igreja vive a fé no Deus que “veio, vem e virá”, e assim encontra sentido para sua missão no mundo.

  1. O Sentido do termo “advento” antes do Cristianismo e sua ressignificação cristã

A palavra advento é traduzida do latim adventus, que significa vinda, chegada, presença. Antes de ser utilizada pelos cristãos, já possuía forte significado religioso e político. O termo era usado em dois contextos principais: no culto imperial romano e nos cultos pagãos às divindades.

No culto imperial, adventus designava a chegada solene do imperador (ou de uma pessoa importante, principalmente para assumir o governo ou um cargo importante) a uma cidade ou província. Essa chegada era celebrada como uma verdadeira manifestação (epifania) política: o soberano, visto como portador de paz e prosperidade, era recebido como alguém dotado de caráter quase divino. A “vinda” do imperador simbolizava proteção e renovação para o povo.

Nos cultos religiosos pagãos, adventus expressava a ideia de que a divindade “vinha” ao seu templo para visitar os fiéis no momento do culto. A presença do deus era celebrada como manifestação de cuidado, cura e poder. Rituais, cânticos e festas evocavam essa descida da divindade ao altar.

O cristianismo assumiu essa linguagem profundamente enraizada na cultura romana e lhe deu um novo sentido. Adventus passou a significar a vinda de Cristo, que é a visita de Deus ao seu povo, na pessoa de Jesus de Nazaré. E esta vinda refere-se à sua primeira vinda na encarnação (a vinda histórica no nascimento de Jesus em Belém), e sua vinda futura em glória (a vinda gloriosa, o retorno definitivo do Senhor no fim dos tempos). É o tempo de celebrar o Deus que já veio e que vem.

Assim, a antiga ideia da “visita da divindade” encontrou sua plenitude: não uma presença simbólica ou ritual, de culto a uma divindade ou a um imperador, mas a espera do próprio Deus que entra na história para salvar. O advento, para os cristãos, torna-se então, a espera da presença humilde e salvadora de Jesus Cristo. É um tempo de expectativa, onde os cristãos não esperam de braços cruzados, mas são chamados a viver a conversão, a caridade e a vigilância.

  1. A simbologia utilizada no Tempo do Advento

Os livros litúrgicos (o Missal, o Lecionário, a Liturgia das Horas etc) são iniciados com o Advento. O Tempo do Advento começa com a oração da tarde na véspera do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo e termina na tarde do dia 24 de dezembro, antes da oração da tarde na véspera do Natal do Senhor.

O Advento é fortemente marcado pela liturgia da Palavra e por ritos que orientam a assembleia para a vigilância e para a esperança. Há quatro domingos, que são chamados de 1º, 2º, 3º, e 4º domingos do Advento. No 1º domingo, ganham destaque as imagens do “fim do mundo”, mas não como ameaça e sim como um alerta para que ninguém seja surpreendido com a vinda do Senhor. Nos 2º e 3º domingos, destacam-se o profeta Isaías e João Batista, que anunciam a salvação que está próxima e que virá certamente. Por isso, no 3º domingo, chamado de domingo da alegria, manifesta-se a alegria pela vinda do Salvador. No quarto domingo, a personagem principal é Maria, que está preparada, pronta para dar à luz ao Salvador que vem.

A cor utilizada no tempo do Advento é a roxa, que é um convite à conversão. Simboliza vigilância, sobriedade, penitência e recolhimento espiritual. É a atitude interior de quem se prepara com seriedade e esperança. No 3º domingo, que é o da alegria, utiliza-se a cor rosa, que exprime a alegria pela proximidade da salvação.

Outro símbolo utilizado é a coroa do Advento. De origem alemã, foi incorporada pastoralmente pela Igreja e tornou-se símbolo forte para famílias e comunidades. Ela tem a forma circular, representando a eternidade de Deus, que não tem começo nem fim. É enfeitada com ramos verdes, que simbolizam a vida e a esperança que não morrem. Nela são colocadas quatro velas, que se acendem progressivamente a cada domingo, marcando o caminho da luz que vence a escuridão. As cores das velas dependem de cada lugar. Em alguns são usadas todas na cor vermelha, em outros, três roxas e uma rosa. No Brasil utilizamos mais as três roxas e uma rosa, como também temos o costume de usar velas coloridas. O Guia litúrgico-pastoral afirma que “pode-se valorizar o uso das cores nas velas, e sendo assim, observe-se uma possível ordem de acendimento (roxa, verde, rosa e branca)”. Recomenda-se não utilizar muito brilho ou o dourado na coroa, porque isto fugiria do sentido do Tempo do Advento e estaríamos antecipando o Tempo do Natal que é a festa da Luz, e deixando de experimentar a alegre espera da manifestação do Senhor.

Uma prece bem antiga e característica do Tempo do advento é “Vem, Senhor Jesus!” (em aramaico, Maranathá). É uma oração das origens, preservada no idioma falado por Cristo. Dependendo da divisão silábica pode significar “o Senhor veio” (Maran atha), ou “Nosso Senhor vem” (Marana tha). O Advento começa com o olhar voltado para o fim dos tempos. É a oração da Igreja que diz: “Senhor, vem completar tua obra. Vem instaurar tua justiça.” “Maranathá” é a palavra que resume toda a espiritualidade do Advento: memória da vinda de Cristo, presença atual e esperança da sua vinda gloriosa.

Outros símbolos e sinais são as “Antífonas do Ó” (realizadas de 17 a 23 de dezembro), que são preciosas joias da tradição litúrgica, evocam os títulos messiânicos de Cristo e aumentam a expectativa da Noite Santa. Também o presépio, que é montado de forma gradual, onde a cada domingo os personagens vão sendo colocados, e o Menino Jesus, na noite de Natal.

Embora não seja rito oficial universal, a Novena de Natal é importante expressão da piedade popular, muito valorizada na pastoral e incentivada como catequese da encarnação. “Ela pode ser realizada em família, em comunidade ou entre vizinhos e amigos. Pode ser rezada nove dias antes do Natal, de 15 a 23 de dezembro, ou ao longo do período do Advento, de acordo com a necessidade do grupo”.

O Advento é celebrado com sobriedade e com alegria discreta, quase contida. O Glória só é cantado nas solenidades e festas. As flores e os instrumentos são usados com moderação para não antecipar a alegria plena vivenciada no Natal do Senhor.

  1. Atitudes interiores para viver o Advento

O Advento é um tempo de graça em que a Igreja nos convida a preparar a chegada do Senhor com atitudes que transformam o coração. Trata-se de cultivar um interior disponível, vigilante e aberto à ação de Deus. Entre essas atitudes, a Igreja ressalta algumas:

  1. Vigilância na fé. Vigiar não é apenas “esperar acordado”, mas manter o coração atento ao que Deus faz. A vigilância cristã brota da fé que acredita que o Senhor já está vindo, discretamente, nos pequenos sinais da vida, nos encontros, na Palavra, na Eucaristia. É uma atitude que impede a distração espiritual e nos coloca de pé, como servidores que, mesmo na noite, reconhecem a Luz que se aproxima. Jesus nos pede essa vigilância amorosa: olhar a realidade com olhos de fé e perceber sua presença que se insinua. Como sentinelas da esperança, vigiar é não deixar a vida adormecer, mas manter acesa a lâmpada do coração.
  2. Conversão. No Advento, conversão significa endireitar os caminhos do Senhor, como pregava João Batista. É voltar o olhar para Deus, reconhecer onde o coração se desviou e retomar com humildade a estrada do Evangelho. É uma oportunidade para romper com aquilo que nos afasta do amor, e de permitir que Deus transforme o que está endurecido. Converter-se é abrir portas internas para que Cristo possa nascer em nós.
  3. Dar testemunho da alegria que Jesus Salvador nos traz. Quem espera o Senhor vive na alegria. Não uma alegria superficial, mas aquela que nasce da certeza de que Deus está perto e vem ao encontro da humanidade com misericórdia. O Advento nos chama a transmitir essa alegria com atitudes, palavras e gestos. Num mundo marcado por correria, medo e cansaço, o cristão se torna sinal luminoso ao revelar que a esperança tem fundamento: Jesus vem, e sua presença renova tudo.
  4. Manter um coração pobre e vazio de si. O Advento nos aproxima da pobreza de Belém. Nosso Deus escolhe nascer pequeno, frágil, silencioso. E só encontra espaço onde há simplicidade. Ter um coração pobre significa não estar cheio de si; não se apoiar em seguranças ilusórias; entregar-se confiantemente nas mãos de Deus; reconhecer que tudo é dom de Deus. É essa pobreza espiritual tão querida por Jesus que permite ao Salvador encontrar pousada em nós. Quando o coração está livre de excessos, Ele pode entrar e realizar sua obra.

Porém, a espiritualidade do Advento não é apenas interior; ela sempre se traduz em gestos concretos de caridade, porque esperamos um Deus que escolheu nascer pobre entre os pobres. Por isso, o Advento chama a identificar-nos com os pequenos, a acolher os que sofrem, a abrir espaço para o outro, a reconhecer Cristo pobre no pobre, exercendo a solidariedade e a partilha do que somos e temos. O Advento nos convida a uma conversão do olhar, que reconhece a presença de Cristo no pobre que sofre. “Haverá lugar em nossa casa e em nosso coração para os que vivem sem lugar?”

Conclusão

Viver o Advento é permitir que a promessa de Deus encontre espaço em nossa história concreta. É um tempo que ilumina toda a vida cristã, porque nos recorda que não caminhamos sozinhos: Aquele que veio em Belém, que vem hoje na força do Espírito e que virá no fim dos tempos é o mesmo Senhor que acompanha nossos passos com misericórdia. Por isso, o Advento é tempo de esperança ativa, que purifica o coração, renova a fé e desperta para a caridade.

Ao contemplar os símbolos, a liturgia e as atitudes propostas para este tempo, percebemos que o Advento não é apenas preparação para uma festa, mas para uma transformação profunda da existência. A vigilância nos mantém atentos aos sinais discretos de Deus; a conversão alinha nossos passos aos caminhos do Evangelho; a alegria revela que a salvação já desponta; e a pobreza de espírito nos torna terra boa para que Cristo nasça novamente em nós.

E porque esperamos um Deus que se fez pobre e se colocou entre os pequenos, o Advento nos impele a abrir portas, derrubar muros e reconhecer no rosto dos que sofrem o rosto do próprio Senhor. Acolher o pobre, consolar quem está só, oferecer presença e escuta, partilhar o que somos e temos, tudo isso é preparar o presépio do coração e tornar o mundo mais parecido com o sonho de Deus.

Assim, ao repetir com toda a Igreja o antigo clamor Maranathá, “Vem, Senhor Jesus!”, pedimos não apenas que Ele venha ao final dos tempos, mas que venha hoje, em nossas escolhas, relações e comunidades. Que o Deus que vem nos encontre vigilantes, disponíveis e comprometidos, para que seu nascimento em nós gere frutos de paz, justiça e amor. Que o Advento seja, verdadeiramente, um tempo de graça, em que nosso coração se torne Belém e nossa vida, anúncio de esperança para o mundo.

Escrito por: Ir. Sueli da Cruz Pereira, IDFMI

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